No decorrer da história, a surdez sempre foi marcada por
preconceitos, discriminação e violência, como resultado de uma visão que
inferioriza, destitui de direitos legais e considera mortal alma dos surdos.
Contudo, é a partir do século XIV que começa a surgir os primeiros pedagogos
que revelam uma mudança de pensamento com relação às pessoas surdas e, no
século XVIII há a fundação de várias escolas para surdos. A partir daí,
diferentes teorias têm buscado contribuir para a socialização, aprendizagem e
comunicação entre surdos e surdos, ouvintes e surdos.
A seguir, as três teorias mais importantes e os aspectos
positivos e negativos de cada uma delas.
ORALISMO
O Oralismo foi o referencial para a educação de surdos
difundido a partir de 1880, após o Congresso de Milão - importante evento
mundial sobre educação de surdos. Sua obrigatoriedade dominou até a década de
60, quando surgem novos estudos e propostas para a educação dos surdos.
Aspectos negativos
A surdez é tida como uma patologia, uma deficiência a ser
minimizada, portanto, obriga o abandono da língua de sinais - com a ideia de
que ela seria prejudicial ao aprendizado da fala - e reforça imposição da necessidade
de falar por meio de métodos severos de fonoarticulação e treinamento de
leitura labial.
Aspectos positivos
Acreditava-se que o método ajudaria no desenvolvimento
cognitivo e linguístico do surdo, fundamental para a aquisição de leitura e
escrita alfabéticas.
COMUNICAÇÃO TOTAL
A comunicação total ganha espaço na década de 70, após
diversos questionamentos sobre a eficácia do oralismo ocorridos durante a década
de 60, quando pesquisadores dos EUA começam a investigar as LS e a legitimá-las.
Ela propõe fazer uso de todo e qualquer método de comunicação, entre eles: sinais
naturais e artificiais, palavras, símbolos e mímicas, de modo que a criança
surda tivesse a possibilidade de adquirir uma linguagem.
Aspectos negativos
Quanto aos aspectos negativos, foi considerado um método confuso.
Os alunos tinham sérios problemas para expressar sentimentos, ideias em
contextos extraescolares. Além disso, havia a proibição dos usos de sinais, um esforço
muito grande do aprendiz para as habilidades de escrita e o rendimento dos
alunos continuava muito abaixo do esperado.
Aspectos positivos
Já com relação aos aspectos positivos, foi notado um
aumento na participação das crianças surdas em conversas com seus professores e
familiares de um modo que jamais havia sido visto desde a adoção do oralismo,
dado que começaram a criar seu próprio sistema de sinais. Essa criatividade de
novos sistemas de sinais teve como característica mais importante o fato de que
a ordem de produção dos sinais sempre segue a ordem da produção das palavras da
língua falada da comunidade ouvinte, produzida simultaneamente (artificiais).
BILINGUÍSMO
O Bilinguismo surge na década de 80 e busca remover a
atenção da fala e concentrar-se na língua de sinais - LS, sua língua materna e
natural, e ter como segunda língua - L2, a língua oficial do país, na forma
escrita. Atualmente, existem duas vertentes relacionadas a essa abordagem
pedagógica. Para a primeira abordagem, a criança deve adquirir a LS e a
modalidade oral da língua, o mais cedo possível, separadamente, e posteriormente
ela deverá ser alfabetizada na L2. Já a segunda vertente enfatiza que deve-se
oferecer apenas a LS e, posteriormente, somente a modalidade escrita da L2;
para esta vertente, a língua oral seria, então, descartada.
Aspectos negativos
Quanto aos aspectos negativos, crianças com atrasos ou
distúrbios na aquisição e desenvolvimento da linguagem teriam maior risco na aprendizagem da L2 antes que
desenvolvam adequadamente a LS. Ademais, segundo a Drª Cíntia A. S. Azoni (apud
Daniel, 2016), doutora em ciências médicas/Unicamp e pesquisadora do Disapre e
Ciapre, a experiência bilíngue em uma escola para crianças que já estejam com
seus seis aninhos, período em que começa o processo de alfabetização em duas
línguas, “pode ser muito constrangedor à criança, uma vez que ela já possui a
consciência de que as duas línguas existem e de que os colegas poderão perceber
seus erros de pronúncia ou pouco vocabulário”.
Aspectos positivos
Referente aos aspectos positivos, a surdez não é vista
como uma doença e sim, diferença linguística. Segundo a especialista Dirce
Maioli (apud Daniel, 2016), psicopedagoga vinculada à Secretaria da Educação de
São Paulo “entre os dois e quatro anos de idade, toda a estrutura física da
criança está em formação, desde o desenvolvimento da fala até o desenvolvimento
neurológico, logo, é o momento de favorecer a pronúncia das palavras de forma
apropriada”, privilegiando as 'brincadeiras', pois tendem a desenvolver ainda
mais a capacidade cognitiva, visto que envolvem práticas com objetos reais que
garantem a assimilação do pensamento abstrato. Segundo ela, a limitação física
não é uma deficiência, mas uma diferença.
Enfim, o que se pode perceber é que, ao longo da
história, a educação de surdos tem sido um tema de extrema necessidade, e
precisa ser abordado dentro e fora do espaço escolar, dada a sua complexidade e
a necessidade de que a sociedade em geral receba informações sobre os processos
educativos e seja capaz de refletir sobre os processos pedagógicos e formativos
oferecidos às pessoas com surdez, de modo que possam rever pensamentos e
atitudes preconceituosas, discriminatórias, e promovam uma maior inclusão do
surdo na sociedade.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Daniel José de. Escolas bilíngues em tempos de
globalização e multiculturalismo mundial. Blog Blasting News Brasil. Publicado
em 19 de Janeiro de 2016. Disponível em: https://br.blastingnews.com/educacao/2016/01/pros-e-contras-das-escolas-bilingues-00758373.html
Acesso em: 20 abril 2020.
NOGUEIRA, Thaís Faria. Língua Brasileira de Sinais
- Libras. (Aula 03_História do Surdo). Thaís Faria
Nogueira. Santos: Núcleo de Educação a Distância da UNIMES, 2015. p. (Material
didático. Núcleo Básico Pedagógico). Disponível em: < https://campus20201.unimesvirtual.com.br/course/view.php?id=1514
> Acesso em: 20 abril 2020.
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