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24.7.20

Lei nº 10.639/2003: Letra viva ou letra morta?


No decorrer da história do Brasil, muitos foram os casos de indiferença, desrespeito e discriminação contra negros e índios; casos que, por vezes, passaram a se enraizar como prática cultural e, inclusive, a habitar o inconsciente coletivo, perpetuando todo um cenário de desigualdade e preconceito que, hoje, em algumas circunstâncias, podem passar despercebido não só para o cidadão comum como para representantes legais da sociedade organizada. E, embora tenham sido criadas leis que tentam reverter essa cultura de desigualdade e indiferença, ainda há muito que ser feito, não só pela escola, mas pela sociedade em geral.

Com relação ao papel da escola, a criação da lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003 surge como uma das políticas de reconhecimento e respeito às diversidades socioculturais do Brasil que torna obrigatório o ensino sobre a História da África e Cultura Afro-brasileira em todas as escolas de Educação Básica. Ela foi complementada pela Lei nº 11.645/2008, que acrescentou os estudos da história e das culturas dos povos indígenas ao currículo educacional, rompendo, conforme CANDAU, 2011, P.28, com o caráter monocultural da cultura escolar.

Obviamente que, como instituição educadora, a escola é uma das principais responsáveis em garantir uma educação que promova a igualdade entre os povos. Mas, por outro lado, é fato que, enquanto todos os órgãos e instituições formadoras de opinião não se debruçarem sobre o tema e discutirem políticas públicas que busquem romper com o desrespeito, com a indiferença e a discriminação cultural, pouca mudança haverá. Pois, embora existam professores dispostos a romper com o silenciamento e abertos ao debate e a busca de uma educação que reconheça e respeite a diversidade sociocultural, é necessário que o problema seja discutido não só na escola, mas em toda a sociedade.

Outro aspecto importante a ser considerado é quanto à invisibilidade social de indígenas e afrodescendentes. A dificuldade de reconhecer que estes povos também evoluem com o tempo, que assumem novas culturas, novas práticas sociais, é uma forma de ignorá-los, de torná-los invisíveis socialmente. E essa dificuldade de perceber negros e indígenas como agentes transformadores e em transformação pode ser notada não só em filmes, propagandas, discursos políticos, mas também no âmbito escolar, nas representações feitas por alunos em dias comemorativos a estes povos e até mesmo em livros didáticos, conforme BONIN, 2008, p. 318.

Portanto, embora o papel da escola já tenha sido delineado pela lei nº 10.639, é preciso estar claro que essa é uma missão de toda sociedade. É imprescindível que a escola reveja regularmente o seu plano político pedagógico, inclua estas questões e leve-as aos estudantes. Já o governo pode investir na criação de políticas públicas que obriguem, por exemplo, as mídias sociais e redes de televisão a incluírem em suas programações esse debate. Estas são medidas urgentes que podem levar à reflexão e ao rompimento do silencio e da invisibilidade social das comunidades negras e indígenas, resultando em maior igualdade entre todos.

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