As relações interpessoais na comunidade surda por meio de
uma língua não se limitam aos contextos formais de comunicação, e exigem muito
mais do que regras gramaticais; é preciso considerar a capacidade sensorial
como um todo, o contexto comunicativo e também social de cada indivíduo. Sem
isso, o processo comunicativo fica envolto por dificuldades e limitações,
prejudicando o entendimento entre aqueles que possuem alguma deficiência
auditiva - por exemplo, e ouvintes que já possuem uma língua em uso. Nesse sentido,
uma abordagem linguística que considere estes aspectos – capacidade sensorial,
contexto comunicativo e os enunciadores, parece ser a mais favorável a uma
maior competência nas relações entre os indivíduos surdos e ouvintes.
Quanto ao Oralismo, Goldfeld (2001, p.89) afirma que a
aprendizagem da língua oral não ocorre nos mesmos moldes para surdos e
ouvintes. Estes absorvem a língua oral de forma natural, no convívio diário com
seus familiares; enquanto aqueles são ensinados, portanto, de forma
artificial. Conclui-se assim, que as
limitações do Oralismo já começam no processo de ensino, para não dizer, de
imposição da língua oral para os surdos, visto que alguns indivíduos podem não
apresentar condições mínimas para o desenvolvimento da oralidade.
Ao tratar das três abordagens, Ciccone, segundo Goldfeld
(p.42), faz algumas críticas. Com relação à filosofia Bilingue, defende a ideia
de que “não se deve impor aos pais que falem com seus filhos usando apenas a
língua de sinais e o português separadamente”. Afirma ainda que um dos objetivos
do Oralismo é igualar a criança surda ao padrão ouvinte, enquanto no
Bilinguismo busca-se igualar a família ouvinte ao padrão surdo. E, embora a
autora acrescente que a Comunicação Total não privilegia o fato de a Língua de
Sinais ser natural e carregar uma cultura própria, entende também que é uma
teoria que aceita e convive com a diferença ao procurar facilitar a comunicação
entre a família e a criança surda. Contudo, a Comunicação Total não respeita a
estrutura própria da Língua de Sinais.
Conclui-se, assim, que ao enfocar aspectos que se referem
às comunidades de surdos e de ouvintes, e em concordância com as ideias
expostas por Goldfeld (p.43), o fato de o Bilinguismo evidenciar “a Língua dos
surdos, sua cultura e forma de pensar e agir”, e não apenas a deficiência auditiva,
faz com que essa abordagem seja uma das mais indicadas atualmente para as
relações interpessoais entre surdos e entre surdos e ouvintes.
REFERÊNCIAS
GOLDFELD, M. A criança surda. São Paulo: Pexus, 1997
Disponível em: < https://books.google.com.br/books?id=bM_MhU5SUWsC&printsec=frontcover&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false
> Acesso em: 21 março 2020.
BRITO, L.F. Integração social e educação de surdos. Rio
de Janeiro : BABEL Editora, 1993
CICCONE, M. Comunicação Total. Rio de Janeiro:
Cultura Médica, 1990.
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